Clubes de tiro para mulheres ganham projeção nos EUA

EMPODERAMENTO, AMIZADE E DIVERSÃO APARECEM COMO MOTIVO PARA ALUNAS PRATICAREM COM ARMAS
Los Angeles "Respire fundo", diz a professora numa manhã de céu azul, num campo entre montanhas no sul da Califórnia. "É como uma vinyasa de ioga", ela continua demonstrando movimentos combinados com sua respiração.
"Inspire, mão esquerda no peito, mão direita no coldre, dedo indicador para cima", ela explica, vestida de preto dos pés à cabeça, incluindo um boné com proteção para o pescoço. "Exale, tire a arma e estique os dois braços, segure com as duas mãos. Respire fundo de novo: concentre na mira. Dedo no gatilho só no momento de atirar."
A aula faz parte do Girls Gun Club, que reúne mulheres uma ou duas vezes por mês num campo de tiro a 40 minutos de Los Angeles. É preciso dirigir por mais de 10 minutos dentro de um parque nacional, numa estrada um tanto bucólica, até se ouvir o barulho dos mais variados tiros.
Apesar de a Califórnia ser um dos estados mais liberais e com maior restrição para compra de armas, o número de vendedores autorizados é quase o dobro de McDonalds, mais de 2.000. A região também acolhe alguns dos melhores atiradores profissionais do país e alguns dos maiores fabricantes do mundo.
Assim como no clube de mulheres, que atrai uma clientela de idades e profissões variadas, os donos de armas californianos também passam longe do estereótipo ultraconservador, caubói ou caçador de veados.
Para poder ter uma pistola em casa, é preciso passar num teste de múltipla escolha, verificação de antecedentes criminais, esperar 10 dias e ter mais de 18 ou 21 anos dependendo do tipo de arma.
A professora do Girls Gun Club é certificada pela Associação Nacional do Rifle (NRA), a polêmica organização de quase 150 anos e 5 milhões de membros que defende a Segunda Emenda à Constituição norte-americana, aquela sobre o direito de ter armas. Ela pede para não ter seu nome publicado.
"Vamos falar da Glock, a Tupperware das armas. Muito confiável, muito popular", comenta, enquanto distribui às cinco alunas uma Glock para cada, um coldre que é amarrado na coxa e duas caixas de munição.
A aula é uma introdução para quem nunca atirou. A prática mesmo começa à tarde, num espaço que imita uma casa. A ideia é entrar armada e acertar os alvos enquanto caminha pelo labirinto.
As alunas frequentam o clube por motivos diversos. "Querem se sentir empoderadas, aprender algo novo, encontrar amigas. Ou apenas se divertir mesmo", diz a professora. "E sempre aparecem aquelas que foram abusadas e não querem mais ser vítimas."
A técnica de segurança Shelley Dowst, uma lésbica veterana do Exército de 38 anos, pratica sempre que possível e costuma discutir com os amigos "extremistas liberais" na internet. "Há muitos em Los Angeles e eles não têm nenhuma educação sobre o assunto. Apenas acham que somos pessoas ruins", disse a americana, que votou no candidato libertário Gary Johnson nas eleições de 2016. "Prefiro ter a habilidade de me defender do que tentar me esconder."
Referências:
Fernanda Ezabella, Folha de S.Paulo: Clubes de tiro para mulheres ganham projeção nos EUA.
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/06/clubes-de-tiro-para-mulheres-ganham-projecao-nos-eua.sht... ,
Fonte/Créditos: Folha de São Paulo
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