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Espingardas Itajubá - Brasil

Em meados da década de 60, diversos fuzis remanescentes do modelo Mauser 1893 em cal. 7X57mm. se encontravam completamente fora de serviço e espalhados por várias unidades...

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Espingardas Itajubá - Brasil
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Espingardas Itajubá - Brasil

 


Em meados da década de 60, diversos fuzis remanescentes do modelo Mauser 1893 em cal. 7X57mm. se encontravam completamente fora de serviço e espalhados por várias unidades do Exército Brasileiro. Surgiu então a ideia de se reaproveitar esse armamento, a grande maioria deles em perfeito estado; ao invés de serem destruídos, e lançando mão de pouquíssimo investimento, a Fábrica de Itajubá resolve transformá-los em uma arma para venda no comércio, destinada à caça; uma espingarda de alma lisa.
 
Da grande quantidade de armas recuperadas dos quartéis e depois de passarem por uma triagem, aproveitava-se a coronha com a soleira de metal, a ação completa (caixa de culatra com mecanismo de disparo, ferrolho e armação do carregador) e os acessórios da coronha como anilhos e presilhas de bandoleira. O cano, bem como as miras,  eram removidos e em seu lugar entrava um novo cano de alma lisa, fabricado na própria Itajubá. Foram escolhidos dois calibres para estabelecerem as duas versões da espingarda; o calibre 28 e o 36. Como não havia mais a alça de mira regulável, a nova telha que recobre parte do cano teve que ser feita à parte, por não ser possível a original ser reaproveitada. Note a coronha típica dos Mauser 1893, sem punho-pistola.
 
De acordo com o leitor Marcos Letro, militar e instrutor de tiro, as primeiras espingardas em calibre 36 foram colocadas à venda em 1962, oferecida para sargentos e oficiais do Exército, na época pelo preço de Cr$ 1.000,00 (Um Mil Cruzeiros ). Os modelos em calibre 28 foram lançadas entre 1965 e 1966, pois ainda havia disponibilidade de muitas peças em estoque. A esta altura, as espingardas já se encontravam à venda nas lojas de caça e pesca do país. O autor adquiriu uma calibre 28 no final de 1965, ao preço de Cr$ 45.500,00. Os pistolões, mais difíceis de serem encontrados hoje em dia, em calibre 36, foram os últimos a serem fabricados, pois não havia mais disponibilidade de coronhas, diz o leitor colaborador.
 
 
 
A espingarda Itajubá em calibre 28 – note a coronha sem “pistol grip”, característica dos fuzis Mauser 1893 – foto do autor
 
 
Detalhe da culatra aberta mostrando um cartucho “Velox” da CBC calibre 28

A escolha desses dois calibres não foi feita tão somente pelo fato de serem, na época, muito populares para caças pequenas e de aves. O fato é que, no caso do calibre 28, havia uma feliz coincidência de que os cartuchos podiam se encaixar corretamente, de ambos os lados, nas abas do carregador, mas somente em número de dois, um em cima do outro. Havia a possibilidade de se colocar mais um cartucho diretamente na câmara, o que fazia a arma comportar tres cartuchos.
 
 
A Itajubá em calibre 36 – o autor supõe que, neste calibre, foi mantido o cano original da carabina Mauser, aberto para o calibre 36, uma vez que até a massa de mira foi mantida.
 
 
No caso do calibre 36, a coisa era mais fácil de se adaptar; nem foi necessário o uso de uma lâmina de transporte dos cartuchos de forma plana, como no caso da 28; podia-se usar a mesma lâmina original do fuzil, com a nervura de divisão central, visto que os cartuchos podiam ser carregados de forma bifilar tal como os originais calibre 7X57mm.

Culatra da Itajubá 28, aberta – note a inscrição “Full-Choke” sobre a câmara e a lâmina (lisa) levantadora dos cartuchos.


Infelizmente nos faltam dados sobre a produção e vendas dessas duas espingardas, bem como até que ano foram produzidas;  depois de várias tentativas de contato com a Imbel, não obtivemos resposta e colaboração dela neste sentido. Talvez, se um dia recebermos essas informações, elas serão sem dúvida adicionadas aqui. Mas, pode-se afirmar sem medo de errar que essas espingardas foram bem vendidas. O preço era convidadivo, custando um pouco mais que uma espingarda da Amadeo Rossi ou da CBC, modelos de um cano, de cão externo, armas bem mais simples.

 
Detalhe da ação Mauser 1893 usada na espingarda Itajubá calibre 28
 
Além de uma pequena diferença na usinagem da cabeça do ferrolho, na ação do modelo em calibre 36 não se nota mais nenhuma diferença em relação à calibre 28
 
Os modelos eram fornecidos com canos em “full-choke“, ou seja, com um certo estrangulamento, característica que aliada ao grande comprimento do cano (740 mm), permitia um alcance considerável para o calibre. O autor fez testes do tipo “pattern” na espingarda de calibre 28, em alvo de papel, para se avaliar a densidade de chumbos. A 1o metros de distância, o diâmetro da chumbada de número 7 estava em torno de 40 centímetros, o que mostra uma concentração muito grande.

 
Ferrolho completo da ação 1893 – a única alteração feita no desenho original foi a usinagem da parte dianteira, eliminando-se o rebaixo existente que comportava o culote dos cartuchos 7X57mm
 
 
Além disso, a confiabilidade era muito boa, pois mesmo se tratando de uma adaptação de um fuzil para uso com cartuchos de caça, a arma muito dificilmente dava problemas de alimentação e de ejeção. Porém, os cartuchos tinham que ser do tipo com boca rebordada, de papelão ou plástico. Cartuchos de metal, do tipo “Presidente” produzido pela CBC, em virtude de terem a boca em canto vivo, enroscavam na alimentação. Outro fator importante era a qualidade do produto e sua durabilidade, pois com exceção do cano, se tratava de um fuzil fabricado na Alemanha com os melhores materiais de que se dispunha na época. Sem dúvida, uma arma que duraria por várias dezenas de anos, se convenientemente bem tratada.

 
Na espingarda Itajubá em calibre 28, a lâmina transportadora do carregador dos cartuchos teve a sua nervura central aplainada, para poder comportar um cartucho de cada vez
 
 
 
 
Culatra aberta do modelo em calibre 36 – nota-se a nervura existente na lâmina levantadora de cartuchos, que possibilita o posicionamento de 4 cartuchos, intercalados dois a dois.
Uma variante bem mais rara, derivada do mesmo projeto, foi uma espécie de pistolão, lançado no calibre 36 nos finais da produção, por ainda possuírem em estoque o mecanismo da ação, mas não mais dispondo mais de coronhas. O pistolão usava uma coronha tipo pistola, com a empunhadura posicionada logo abaixo da culatra e um pequeno fuste colocado na parte anterior, sob o cano, que tinha pouco mais de 30 cm. de comprimento. Era um pouco desconfortável o manuseio da ação por ferrolho, uma vez que a mão esquerda deveria estar empunhando a arma enquanto a direita abria o ferrolho. Esse pistolão foi bem menos disponibilizado no mercado do que as espingardas.


 
Pistolão Itajubá, utilizando ação Mauser do tipo 1898 (gentileza de um leitor)
 
Os últimos exemplares produzidos, já com a empresa utilizando seu novo nome, Imbel, usavam ações do Mauser tipo 1898, provavelmente oriundas de fuzis remanescentes do Contrato Brasileiro de 1908. Acredita-se que essas últimas saíram de linha no final dos anos 70. Mesmo nos fuzis Mauser, a ação modelo 1898 tem uma diferença marcante em relação à modelo 1893, dentre outras visando maior segurança: na ação 1898, o simples fato de se erguer a alavanca do ferrolho e baixá-la novamente, já arma o percussor. Na ação 1893, após a alavanca erguida, o ferrolho tem que ser puxado um pouco para trás para se proceder ao engatilhamento.


 
Espingarda Imbel calibre 28, últimas séries, já utilizando ação do fuzil Mauser 1908 – repare a coronha utilizada, original do fuzil 1908, com punho-pistola e agora sem a telha superior – (Foto cortesia de D.A.N.)


 
Detalhe da estampa da Imbel, gravada sobre a câmara e dados do calibre (Foto cortesia de D.A.N.)


 
Detalhe do ferrolho aberto da Imbel calibre 28, onde se nota claramente as características da ação Mauser tipo 98, como a orelha lisa da trava de segurança, mais um dente de trancamento traseiro e o trilho/guia superior no cilindro do ferrolho. Note bem no centro da foto, fixada à armação via um parafuso, a alavanca de trava do ferrolho, utilizada para a retirada do mesmo e também como alojamento do ejetor de cartuchos. (Foto cortesia de D.A.N.)
 
 
 

DETALHES DE FUNCIONAMENTO

De maneira análoga ao manuseio do fuzil Mauser, abre-se a culatra puxando-se o ferrolho totalmente para trás. Insere-se dois cartuchos no carregador (cal. 28), por cima, de forma que o último fique retido pelas abas traseiras. Um terceiro cartucho pode ser inserido diretamente na câmara. Neste caso, antes de fechar o ferrolho, exerce-se uma pequena pressão para baixo no último cartucho para que o ferrolho passe por cima dele e tranque sobre o cartucho existente na câmara.

 
Marca de fábrica do lado esquerdo da culatra na espingarda calibre 36
 

Após cada disparo, o ferrolho necessita ser aberto até o final de seu curso, ejetando o cartucho vazio; fecha-se novamente o ferrolho, quando o cartucho seguinte no carregador se solta das abas, para ser alimentado. Em relação aos cartuchos utilizados, dever-se tomar o cuidado de se usar os designados para câmaras de 65mm e não os de 70mm, que poderá ocasionar problemas sérios.
O mecanismo de gatilho, mantido exatamente como o original, não é particularmente muito duro, mas tem a característica típica dos fuzis Mauser, que são os dois estágios bem definidos e com curso bem longo. De qualquer forma, mesmo se tratando se arma derivada de um fuzil militar, o acionamento do gatilho é macio.
A trava de segurança, que é de uma eficácia a toda prova pois impede de forma muito consistente o movimento do percussor, funciona da seguinte maneira:
 
 
 
Acima o ferrolho destravado e desengatilhado
 
 
 
A arma engatilhada e travada (o ferrolho pode ser manuseado desta forma com total segurança)
 
 
 
Agora com a trava totalmente acionada, que não permite nem a abertura do ferrolho para manuseio.
 
 
 
Detalhe da desmontagem parcial do ferrolho, para limpeza interna e lubrificação – com a trava de segurança na posição intermediária, basta desatarraxar o conjunto traseiro do corpo cilíndrico do ferrolho. Em cima, o cilindro com alavanca de manejo e lâmina do extrator. Abaixo, conjunto do percussor com sua mola, guia e trava de segurança.


O ferrolho pode ser retirado da arma com muita facilidade. Do lado esquerdo da culatra há um retém, articulado em um pino, com um ressalto serrilhado na parte superior. Abre-se o ferrolho até o final do curso, abre-se esse retém para fora, puxando-o para a esquerda e retira-se o ferrolho. Ao recolocar o ferrolho na arma, não é necessário se mover o retém, mas atenção com o posionamento correto da lâmina do extrator.
O funcionamento da calibre 36 era mais garantido do que na 28. Nesta última, o autor teve a oportunidade de usar várias delas, a extração nem sempre ocorria de forma adequada. Interessante citar que cartuchos carregados eram extraídos com mais eficiência do que os vazios. Muitas vezes, esses eram corretamente extraídos da câmara mas por questão de ajustes, eram “largados” pelo extrator no meio do percurso, antes de atingirem o ejetor, que fica localizado na trava do ferrolho, lado esquerdo da caixa da culatra.

CONCLUSÃO

Trata-se de uma arma curiosa, tanto nos aspectos técnicos como da forma como foi idealizada. No Brasil da década de 60, com pouquíssimos fabricantes concorrentes e nenhuma espingarda com padrões altos de qualidade, diga-se de passagem, a Fábrica de Itajubá teve a chance e a idéia interessante de reaproveitar armas militares, cujo destino certo seria a destruição, e lançar uma espingarda no mercado, com investimento baixíssimo e praticamente nenhum custo de desenvolvimento.
 
Mesmo se tratando de uma adaptação, a arma tinha suas virtudes como extrema resistência, qualidade dos materiais e robustez a toda prova. Sua semelhança com os fuzis Mauser de repetição podem ter inclusive, ajudado nas vendas pois era uma arma atraente e muito mais vistosa que as simples espingardas de um tiro e de um cano existentes na época.

 
Acima, um caçador em ação com a Itajubá 28 na década de 60
 
A desvantagem ficava por conta do tamanho avantajado, embora os modelos em calibre 36 tiveram uma opção que utilizava canos mais curtos; em relação ao transporte, elas eram realmente um tanto inconvenientes e chamavam muito a atenção, pois não tinham o recurso comum nas espingardas tradicionais de se separar o cano do resto da arma, inclusive sem uso de ferramentas.
O acabamento é muito bom, de modo geral, com o madeiramento bem conservado e envernizado brilhante, e peças em aço com oxidação negra brilhante. O ferrolho foi mantido em aço puro, sem acabamento algum. Esteticamente a arma peca um pouco pela parte dianteira onde, com a retirada do prolongamento do fuste do fuzil, a coronha termina de forma um tanto abrupta.
 

A ITAJUBÁ ATÉ 2010

Hoje, a fábrica de Itajubá é parte do complexo fabril da Imbel, fornecedora de armamento bélico para as forças armadas, incluindo aí o fuzil FAL M964, a carabina MD97, as pistolas baseadas no projeto 1911 M973 bem como armas para uso de civís e atiradores na categoria “Tiro Prático” (I.P.S.C.) como o modelo GC45. Além disso ainda produz munição de uso militar e vários tipos de pólvora destinados aos atiradores que se dedicam à recarga de cartuchos. A carabina MD1 em calibre .22LR é outra arma destinada ao público atirador esportivo, conforme nos mostra o material promocional abaixo.

 
Esta arma é a substituta de outra carabina no mesmo calibre, lançada pela Fábrica de Itajubá nas décadas de 70 a 80, com o intuito de competir no mercado com suas rivais da CBC e da Rossi. Era uma carabina com carregador destacável de 5 cartuchos, de repetição por ferrolho, muito bem construída com materiais de primeira linha. Em sua época, provou ser uma das mais agradáveis e precisas carabinas nacionais.
Detalhe do ferrolho aberto da carabina Itajubá em calibre .22 LR. Essa era a posição do ferrolho quando ele poderia ser retirado para limpeza.
 

DADOS RESUMIDOS DA ESPINGARDA 28 E 36

  • Data de fabricação: entre 1965 a 1975 (estimado)
  • Calibre: 28 e 36
  • Capacidade: 28 (3 cartuchos) e 36 (5 cartuchos) incluindo um na câmara
  • Acabamento: oxidada
  • Comprimento total: 125 cm (28) e 107 cm (36)
  • Comprimento do cano: 74mm (28) e 56mm (36)
  • Pêso: 2,500 Kg descarregada (28) e 2,325 Kg (36)
 
 

Fonte/Créditos: Armas Online e História Militar on-line

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