
A grande ironia sobre a pistola semi-automática Sauer 38H é que, embora seja considerada por muitos autores como uma obra-prima da engenharia alemã e a melhor arma de sua categoria fabricada até hoje, ela permanece como uma virtual desconhecida, principalmente em razão do fato de que nunca mais voltou a ser fabricada, desde o fim da II Guerra Mundial, ao contrário do que aconteceu com suas concorrentes diretas, as Walther PP e PPK e a Mauser HSc.
Produto de uma das mais antigas fabricantes de armas da Europa, a J. P. Sauer & Sohn (fundada em 1751) situada na cidade Suhl, a 38H foi, na verdade o primeiro sucesso comercial desta empresa no campo das armas portáteis.
Tradicionalmente dedicada à produção de exclusivas e refinadas armas longas de caça, a Sauer havia se voltado para a produção de pistolas semi-automáticas no início do século XX, com o lançamento de seu primeiro modelo em 1906, chamado Roth-Sauer. De carregador fixo, mecanismo complexo e munição deficiente (um 7,65mm Curto), a arma foi um fiasco comercial.
A empresa tentaria novamente alguns anos depois, com o lançamento da Sauer 1913, com mecanismo mais tradicional e em calibre de grande aceitação (7,65mm Browning). Ela seria sucedida em 1930 por uma versão modernizada, com ligeiras modificações no design, empunhadura mais ergonômica e trava manual mais prática, a Sauer 1930 “Behörden” utilizava o sistema de percussor lançado (não há um “cão” na arma, sendo que a “agulha – ou percussor – é presa na posição de disparo por uma armadilha), conceito que estava se tornando rapidamente superado nos anos 1930.
Contudo, já em 1932 os projetistas da Sauer começaram a trabalhar em um projeto de pistola de ação dupla (onde a arma não precisava ser engatilhada para o primeiro disparo), na tentativa de seguir o caminho de sucesso já aberto pelas pistolas Walther PP e PPK.
Um Projeto Ousado
Os primeiros protótipos, que surgiram em 1937, eram calibrados para a munição 9mm Luger, uma vez que a Sauer visava participar da concorrência aberta pelo Alto Comando da Wehrmacht para definir a arma que substituiria a veterana pistola Luger P-08. A disputa, envolvendo as fábricas Walther e Mauser – além da Sauer – foi vencida pela primeira, com o projeto que mais tarde seria conhecida pelo seu ano de adoção: P-38.
Contudo, a licitação teve um desdobramento para a escolha de uma segunda pistola, destinada a oficiais comissionados (acima de Leutnant) e agentes à paisana, e a Sauer simplesmente recalibrou sua arma para o calibre 7,65mm Browning. Os projetos apresentados pelas mesmas três concorrentes eram de qualidade tão excepcional que, para surpresa geral, houve um empate técnico entre as Walthers PP/PPK, a Mauser HSc e a Sauer 38H.
Como conseqüência, entre 1940 e 1945, os três fabrican-tes receberam encomendas do Alto Comando em núme-ros quase idênticos: 244.000 exemplares comprados da Sauer, 251.000 adquiridos da Mauser e, por fim, 269.000 armas encomendadas à Walther.
O número de série da Sauer iniciou-se em torno de 260.000, por razões não muito claras, já que a soma dos modelos antigos já comercializados pela empresa não totalizavam um número tão expressivo. A maioria absoluta da produção foi calibrada para a munição 7,65mm, sendo que eventuais exemplares em calibre .380ACP não passaram de protótipos. Alguns outras armas foram fabricadas em calibre .22LR, para a venda no mercado civil, mas são muito raras – como todo exemplar civil do período – pois logo a fábrica teve que se concentrar exclusivamente na produção destinada às forças militares.
Tratava-se de uma pistola semi-automática que funciona-va em ação dupla, mas possuía o “cão” (ou “martelo”) interno, sendo que este podia ser engatilhado por uma alavanca situada abaixo do ferrolho, no lado esquerdo da arma (externamente, o método para visualizar o engati-lhamento era a redução do curso do gatilho). Este sistema revolucionário, também permitia que a pisto la fosse desarmada, com a mais absoluta segurança. Da mesma forma que suas concorrentes da Walther, a 38-H tinha um indicador de munição na câmara, que era um pino que se projetava na parte traseira do ferrolho, caso houvesse “bala na agulha”.
Interessante notar que, quando de seu lançamento, em 1938, a 38H não possuía nenhuma trava com acionamento manual, pois o fabricante depositava toda sua confiança no sistema de engatilhamento e desengatilhamento externo – através da já citada alavanca -, na segurança do carregador (a arma não dispara sem o carregador estar corretamente encaixado), e no indicador de munição na câmara. Pouco depois, com a adição da trava manual colocada no lado esquerdo superior do ferrolho, ela se tornou o que muitos consideram a melhor pistola semi-automática do mundo.
Outras características técnicas eram o acabamento soberbo, o excepcional raiamento (o cano era fixo à armação), a alça de mira com detalhe de enquadramento com tinta vermelha (na massa de mira) e com ponto branco (na alça de mira), e o retém do carregador através de um botão no lado esquerdo.
A desmontagem iniciava-se ao se puxar um retém situado dentro do guarda-mato. O único ponto fraco da arma era sua empunhadura, que utilizava um material plástico extremamente frágil, o que forçou sua substituição por outros de alumínio ou madeira, sendo que a própria Sauer chegou a fabricá-los.
Peça de Coleção
Em 1951 Rolf-Dieter Sauer, herdeiro da fábrica, montou uma nova fábrica, agora na cidade de Eckendorf (Alemanha Ocidental) que, embora menor que a original, conseguiu retomar a produção de armas de caça. No meio da década de 1970, com a expansão dos negócios, iniciou-se uma parceria com a estatal suíça SIG-Neuhausen, começando com a produção de pistolas da série SIG-Sauer P220.


Dados técnicos
- Fabricantes: J.P. Sauer & Sohn
- Comprimento total: 170 mm
- Comprimento do cano: 85 mm
- Calibre: 7,65 mm Browning
- Peso (descarregada): 710 gramas
- Capacidade: 8 cartuchos
- Cabos: plástico
- Miras: fixas
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