O indestrutível Sir Adrian Carton de Wiart

Sir Adrian Carton de Wiart - Créditos: autoria desconhecida.
Indestrutível: atingido por tiros e estilhaços de bombas no estômago, tornozelo, quadril, virilha, pernas e ao menos três vezes na cabeça. Sobreviveu à queda de um avião no mar e nadou 1.600 metros para se salvar, escapou de um campo de prisioneiros fascista e arrancou os próprios dedos da mão com os dentes. Perdeu um olho, parte da orelha e a mão esquerda. Na velhice, teve sua casa bombardeada; posteriormente, sofreu um acidente e quebrou uma vértebra, quando levado ao hospital se descobriu que seu corpo estava repleto de estilhaços colecionados ao longo de quase meio século de guerras. Este é Sir Adrian Carton de Wiart.
Conservador, enérgico e de palavras desmedidas (“boca suja“), pertencia à aristocracia belga, largou os estudos, mentiu sobre a idade, “alterou” seu nome para Carton Trooper e se mandou para a guerra. Participou da Segunda Guerra dos Bôeres e das duas guerras mundiais.
Recebeu promoções e condecorações que somente o mais extraordinário dos soldados poderia alcançar, tornando-se também Sir da coroa britânica. Dedicou à guerra grande parte dos seus 83 anos de vida.
Francamente, eu apreciei a Guerra… Por que as pessoas querem a paz se a guerra é tão divertida?” — Sir Adrian.
A distinta figura de tapa-olho negro nasceu em 5 de março de 1880 em Bruxelas, na Bélgica, naturalizou-se inglês e prestou serviço militar à coroa britânica entre os anos de 1899 e 1947. Casou-se duas vezes e teve duas filhas.

Adrian mais uma vez ferido durante a Segunda Guerra Mundial, 1940 - Créditos: autoria desconhecida.
Em 1899, falsificou nome e idade para ser incorporado às forças armadas britânicas e lutar na África. Nesta guerra foi ferido no abdômen e na virilha.
O jovem Adrian possuía excelente condição física por ser praticante de esportes (incluindo caça e degola) e logo se recuperou. Como demandava o temperamento belga na época, possuía “espírito esportivo” e, observando seus ferimentos, os teria tomando como algo normal, necessários para a construção de um grande soldado. Teria redobrado a prática de esportes para seu aperfeiçoamento físico.
Foi nessa época que sua família descobriu que havia largado os estudos (Direito) para ser militar. Em 1902, após o fim da guerra, foi mandado para Índia como segundo tenente.
Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
Em 1914, quando a Grande Guerra teve início, Carton de Wiart cumpria missão na Somalilândia, na África. Nesse conflito, teria sido atingido na cabeça e perdido parte da orelha.
Em 1915, quando empregado na Primeira Guerra Mundial, desembarcou na França e sobreviveu a diversas batalhas, incluindo os moedores de carne humana chamados deSomme e de Ypres (Passchendaele) — Batalha de Somme (em 1916: mais de 1 milhão de mortos); Terceira Batalha de Ypres (em 1917: cerca de 850 mil mortos).
Ao fim das agressões, já tinha sido alvejado nas pernas, no tornozelo, quadril e novamente na cabeça (perdendo o olho esquerdo). Também havia sofrido grave lesão na mão esquerda por causa de uma granada, ocasião em que o médico teria se recusado a amputá-la.
Diante da negação, Carton teria arrancado os dedos da mão ferida com os próprios dentes, o que obrigou o médico a amputá-la. Ao que parece, seu desejo era reduzir o tempo de enfermaria, afinal, havia uma guerra mundial para vencer.

Carton no centro, de tapa olho. Créditos: autoria desconhecida.
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
Residindo no leste europeu e já contando 60 anos quando os alemães invadiram a Polônia, retornou à Grã-Bretanha para se armar e mais uma vez ir à guerra.
Em 1940, liderou uma campanha destinada ao fracasso na Noruega: deter os alemães na cidade Trondheim. Apesar da evacuação das tropas britânicas já ter sido recomendada, por supostos motivos políticos não ocorreu — e foi atacado pela infantaria e bombardeado pela aviação e marinha nazistas. Adrian parece ter saído ileso dessa vez.
Em 5 de abril de 1941, Carton embarcou em um avião a caminho do Cairo, no Egito. Entretanto, quando sobrevoava a costa da Líbia, os motores do avião pararam de funcionar derrubando-o a aproximadamente mil e seiscentos metros da praia. Carton teria nadado sozinho e chegado à faixa de terra, quando uma guarnição italiana o prendeu e o atirou em um campo de prisioneiros.
No campo de prisioneiros fascista, tentou fugir ao menos 5 vezes através de túneis ou, como determina a cartilha da guerra, mediante meios ardilosos. Quando Carton foi agraciado pela libertação do campo, a surpresa: havia fugido! Quando encontrado, sua libertação foi revogada.
Algum tempo depois lhe foi feita uma proposta: seria libertado se prometesse que nunca mais lutaria qualquer guerra. Foi finalmente liberado em 1943 e logo tratou de retornar para casa – ocasião em que esta foi bombardeada pelos alemães.

Conferência do Cairo (22-26, nov. 1943). China, Reino Unido e EUA. Sentados: o Generalíssimo Chiang Kai Shek, o Presidente dos EUA Franklin Delano Roosevelt, o Primeiro-Ministro britânico Winston Churchill e Madame Chiang Kai Shek (intérprete). Em pé: os generais Chang Chen e Wei Ling; os Generais americanos Somervell, Stilwell e Arnold; e os altos oficiais britânicos, o Marechal-de-Campo Sir John Dill, o almirante Lord Louis Mountbatten e, por fim, o indestrutível Tenente-Coronel Sir Adrian Carton de Wiart, VC. Créditos: Jim Hudson.
Em 1947, após a Segunda Guerra Mundial, lá partia Adrian Carton de Wiart para a conturbada China como representante especial de Winston Churchill (Primeiro-Ministro Britânico). No mesmo ano, aos 67 anos de idade, o bravo guerreiro de palavras inconvenientes se aposentou.
Quebrou uma vértebra em um acidente na sua nova casa e foi levado ao hospital. O resultado dos exames surpreendeu os médicos: diversos estilhaços de aço foram retirados do seu corpo.
O descanso do guerreio indestrutível
Aos 83 anos de idade, o velho cavaleiro da rainha Elizabeth finalmente se aquietou: o Tenente-Coronel Sir Adrian Carton de Wiart faleceu em 5 de junho de 1963, e, ao que parece, por consequência de uma simples queda no banheiro de casa.
Parece brincadeira, mas, em suas memórias feitas durante a aposentadoria, o velho resmungão não mencionou a família e deixou registrado:
Os governos podem pensar e dizer o que quiserem, mas a força não pode ser eliminada — é o único poder real e incontestável. Somos informados de que a caneta é mais poderosa que a espada, mas sei qual delas eu escolheria como arma."
Uma frase do filósofo Blaise Pascal que me fez lembrar de Adrian
"Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a lançar-se à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes. O desejo só dá o último passo com este fim. É isto que motiva as ações de todos os homens, mesmo dos que tiram a própria vida".
Fonte: Incrível História
Fonte/Créditos: Incrível História
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