O Calibre 44-40 Winchester
A munição .44-40 foi o primeiro cartucho moderno criado pela empresa Winchester (EUA),no ano de 1873, para substituir as munições .44 “flat Rimfire”,que eram utilizadas nos Rifle/Carabinas Henry e Winchester mod. 1866.


Soldados do Exército da União com seus Rifles Henry Mod. 1860 durante a Guerra da Secessão.
A munição .44 Henry era de percussão radial (não existia na época munições de percussão central), possuindo um projétil de 216 grains e uma carga de pólvora preta de 26 grains. Posteriormente, o projétil foi modificado para o peso de 200 grains.

Oliver Winchester comprou a empresa de Henry, mantendo-o como designer-chefe da empresa Winchester Repeating Arms Company (criada em 22 de maio de 1866), o qual veio a projetar a famosa linha de Rifles Winchester que conquistariam o Ocidente. Em 1866, foi lançado o Rifle Winchester Mod. 1866, também conhecido como “Yellow Boy” (garoto amarelo) e trouxe algumas melhorias frente ao seu predecessor Rifle Henry, permanecendo o mesmo calibre para ambas as armas. Posteriormente, o Rifle Modelo 1866 também foi produzido na configuração do calibre .44-40 Winchester.

Já no ano de 1873, a empresa Winchester lançou o Rifle Winchester Modelo 1873 o qual evoluiu ainda mais em melhorias, frente a seu predecessor o modelo 1866, e trouxe uma significativa inovação, o cartucho .44-40 Winchester, o que melhorou muito a potência e o alcance já que utilizava o mesmo projétil de 200 grains, porém agora possuía uma carga de pólvora de 40 grains frente às 26 grains de seu predecessor. Além disto, esta nova munição foi projetada como um cartucho de percussão central, justamente para permitir a utilização de paredes mais espessas do estojo permitindo que suporte maior pressão cujo antecessor não tolerava. A Winchester descreveu esta nova munição como eficaz e precisa para distâncias de até 500 a 600 jardas (457-548 metros). Uma das principais vantagens do Modelo 1873 era sua armação confeccionada em aço e não em latão, como seus predecessores modelos Henry e Winchester 1866.


Observa-se a diferença entre o sistema de percussão (radial e central) assim como algumas munições 44-40 com espoleta Small e outras Large.
A nova munição possui duas nomenclaturas populares: a) .44 WCF: que significa .44 winchester de fogo central (center fire); em contraposição às .44 Rimfire (fogo radial) que predominavam até o momento. b) .44-40: esta nomenclatura refere-se à carga de 40 grains de pólvora negra (utilizada na época) que era alojada em seu estojo. Além destas nomenclaturas mais usuais, também é conhecido como .44 Winchester e .44 Largo.
No ano de 1895, a Winchester lançou o cartucho .44-40 Winchester com pólvora sem fumaça (pólvora química), sendo oferecido em seu catálogo nº 55.

Já em março de 1903, a Winchester lançou o cartucho .44-40 High Velocity em seu catálogo nº 70. Nessa nova configuração de alto desempenho, o projétil de 200 grains era expelido a uma velocidade de 1500 f.p.s. frente a seus 1.190 f.p.s. originais. Contudo, tal aumento de energia trouxe acentuada preocupação ao mercado, haja vista que grande parte das armas que empregavam este calibre foram forjadas aos moldes do séc. XIX e não possuíam estrutura para trabalharem com tamanho pico de pressão em suas câmaras. A pressão normal de trabalho destas armas é de 13.900 psi e esta munição de alta velocidade, lançada no mercado, alcançava a marca de 22.000 psi. Portanto, as munições de alta performance podem ser utilizadas com segurança em rifles Winchester Modelo 1892, assim como nas Carabinas Pumas. Atente-se ao cuidado quanto à utilização em revólveres, devendo tal uso ser restringido apenas às novas armas confeccionadas em aço temperado, além de sempre se observar as instruções do fabricante.
Após a 2ª Guerra Mundial, a empresa Winchester deixou de adotar a designação .44 W.C.F. para estas munições e padronizou o uso da designação .44-40, por ser esta a mais predominante entre o público, bem como como se manteve o peso do projétil em 200 grains. Essa denominação .44-40 foi originalmente adota por outras empresas da época, com o objetivo de não aumentar a popularidade de sua concorrente (Winchester). Com o passar do tempo, a própria Winchester adotou esta última designação, sendo hoje vendida pela empresa como .44-40 Winchester.
O calibre .44-40 Winchester foi projetado com um projétil .44 com 200 grains de peso. É confeccionado em chumbo nu, com ponta achatada/plana, o que era necessário já que esta munição se mantinha alojada em um carregador tubular, uma atrás da outra, o que evitava do projétil acidentalmente acionar a espoleta da munição que estava alojada à sua frente.

Essa munição acabou por popularizar-se nas mãos dos desbravadores do Oeste Selvagem Norte-Americano, pois já possuíam uma munição que poderia ser utilizada tanto em Rifles/Carabinas, quanto em revólveres, visto que no ano de 1877 a empresa COLT lançou o revólver “Peacemaker” ou “Frontier”, no mesmo calibre, tornando-se tão popular a ponto de o Rifle Winchester Modelo 1873 vir a ser conhecido como “a arma que conquistou o Oeste”. Assim, com uma mesma munição para ambas as armas (revólver e rifle) os aventureiros que se mudaram para o Oeste simplificaram a logística de suprimento de munição para suas armas.

É creditado ao calibre .44-40, ainda hoje utilizado, o segundo maior número de cervos abatidos, perdendo apenas para o cartucho calibre .30-30 Winchester, também utilizado em Rifles Winchester e projetado por esta mesma empresa.
O lema perpetuado por sua criadora, no lançamento, era que esta munição teria força para matar a 1.000 jardas (914 metros) e que preenchia as três finalidades básicas de uma munição: defensiva, ofensiva e caça.
O calibre .44-40 tem como característica o afunilamento de seu estojo, o que facilita o seu perfeito funcionamento em armas de repetição por alavanca, como as carabinas Winchester e Puma (Rossi). Tal característica pode ser constatada nas demais munições criadas pela empresa para seus rifles da época, como a .32-20 Winchester, .38-40 Winchester e .30-30 Winchester.

A munição .44-40 possui uma característica comum a todos os estojos de munição projetados a seu tempo, ou seja, um excesso de volume ocioso quando recarregadas com pólvoras modernas. Como as novas pólvoras acabam ocupando pouco volume e ficam muito soltas, isto pode acarretar disparos irregulares. Por este motivo, o correto é utilizar em sua confecção pólvoras de baixa densidade gravimétrica (o que toma maior o volume nos estojos – pólvora de base simples), para preencher seu interior. Outra consideração se deve à recarga com pólvoras de queima lenta, já que é um calibre utilizado em armas de cano longo o que acarretaria ao projétil uma boa aceleração.
Outro detalhe desta munição é a utilização de espoleta large pistol em sua confecção. Porém, cartuchos antigos podem ser encontrados com a configuração de espoleta small.
Importante ter atenção para não confundir algumas munições que aparentemente parecem idênticas, como é o caso das munições da família .44 e que apesar da aparente semelhança, possuem configurações bem distintas, cujo uso inadequado pode acarretar sérios acidentes. Segue abaixo uma tabela comparativa na qual se pode visualiza as diferenças entre pressões, diâmetros de projéteis, características de estojo e a energia proporcionada por cada uma destas munições:

.44 S&W SPECIAL | .44-40 WINCHESTER | .44 MAGNUM | |
Pressão (psi) | 15.500 | 10.000-18.000 | 20.000-45.000 |
Projétil (diâmetro) | .429 | .427 | .429-.430 |
Projétil (grains) | 240 grains | 200 grains | 240 grains |
Estojo | Paredes paralelas | Cônico | Paredes paralelas |
Energia (joules)
na boca do cano
|
632,48 | 831,14 | 1.849,35 |
RECARGA
Um dos problemas encontrados nas Carabinas Puma, no calibre .44-40, no Brasil, bem como em armas desse calibre em outros países, é o fato dos fabricantes as produzirem com canos de suas linhas de produção com medições para o calibre .44 MAGNUM. Tal fato é importante visto que as configurações originais da munição .44-40 devem ser adequadas para um projétil de 0.427”, enquanto os canos nas novas armas estão sendo confeccionados na medida de 0.429 e também em 0.430”, que é o caso do calibre .44 MAGNUM. A SAAMI possui por configuração a medida de 0.4285” como padrão a ser confeccionados os canos para armas no calibre .44-40.
Uma característica da munição .44-40 é que esta possui uma espessura da parede do pescoço do estojo de apenas 0,007” a 0,008”, ou seja, praticamente a metade da espessura frente à munição .44 MAGNUM, o que torna muito mais cuidadosa a sua recarga, para não danificar e perder o estojo.
Esta munição teve seu comprimento projetado para ter seu volume interno totalmente preenchido com pólvora preta, o que faz com que o projétil fique assentado no próprio propelente, já que a munição era armazenada em carregadores tubulares dos Rifles Winchester e, consequentemente, o projétil era forçado para dentro do estojo pela força da mola deste carregador. Também devido a este tipo de carregador tubular é que o projétil possui em seu design ponta plana, para no caso da pressão exercida contra a munição, que esteja à sua frente, não resulte em uma detonação dentro do carregador, ao comprimir a espoleta da munição alojada à frente, o que poderia ocorrer caso o projétil tivesse um desenho mais ogival/saliente.

Atualmente, não se tem como padrão a recarga deste tipo de munição com pólvora preta, mas sim com pólvoras químicas mais moderadas. Com isto, há um grande espaço ocioso dentro do estojo já que no referido cartucho há uma porcentagem bem menor desta pólvora. Isto pode resultar num deslocamento do projétil para a parte interna do estojo. Para que tal fato não ocorra, as indústrias adotaram a inclusão de uma canaleta no estojo, próxima à parte adjacente na base do projétil, o que evita que, a pressão exercida pela mola do carregador tubular dos Rifles Winchester ou Pumas, desloque o projétil para seu interior, bem como com o recuo propiciado no momento dos disparos.

Quanto aos projéteis, deve-se verificar que, para começar uma recarga utilizando o calibre .44-40, é preciso ter em mente que há uma variedade de medidas dos canos nas armas dispostas mundo afora. Originalmente, o diâmetro do cano deve ser de 0.427”, porém, em armas muito antigas, essa medida já está desgastada e, em muitas armas novas, a medida encontrada pode chegar a 0.430”, enquanto os fabricantes se utilizam da mesma plataforma utilizada para a fabricação dos canos do calibre .44 MAGNUM. Isto obriga o atirador a ter ciência do cano que irá utilizar para adquiri o projétil adequado. Lembre-se de que, no caso de o projétil, possuir medidas inferiores às do cano, automaticamente ocasionará a perda da precisão, assim como nas demais situações, a exemplo do tombamento do projétil durante sua trajetória.
Outro problema que surge é que ao se utilizar projéteis 0.430” na recarga, estes acabam por sacrificar as medições do estojo (deformando-o), já que deveriam permanecer adequado ao projétil de 0.427”. Ainda assim, pode ocorrer que a munição, no caso de estar com um projétil em 0.430”, não consiga adentrar na câmara da arma, principalmente se o atirador se deparar com um rifle com as medições originais. Caso consiga mesmo assim alimentar a arma, e esta possuir o cano com diâmetros inferiores à munição carregada, ocorrerá um excesso de pressão no momento do disparo, o que pode acarretar graves acidentes ao atirador, principalmente quando utilizar armas antigas.
Atente-se ao fato de que este calibre trabalha com projéteis que variam de peso entre 180 a 220 grains, e estes devem ser no formato de cone truncado ou ponta chata, caso contrário ultrapassarão o limite máximo da munição “C.O.A.L.” (comprimento total do cartucho), e ao manobrar a alavanca dos rifles modelo Winchester, as munições poderão não passar pelo mecanismo de alavanca da arma.

Este magnífico calibre cuja trajetória afetou a vida de muitas gerações, ao desbravar fronteiras, na defesa durante períodos instáveis, e ao propiciar alimentos através da caça de animais silvestres, acabou por perder mercado com o surgimento de novas munições carregadas com as recentes pólvoras químicas. Contudo, acabou ressurgindo, com força nas décadas de 1950 e 1960 com o relançamento pela COLT de alguns revólveres neste calibre, assim como ressurgiu glorioso com o surgimento das provas de silhueta metálica e dos tiros de ação de cowboy (Cowboy Action Shooting) que estão muito populares atualmente nos Estados Unidos da América.
Autor: Augusto Thomazi Gassen
Bibliografia:
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LYMAN. Reloading Handbook, 50th Edition, 2016.
MATHIAS, J.J.D’ANDREA e PIMENTEL, R.B. Manual Prático de Recarga de Munições, 2015.
https://en.wikipedia.org/wiki/.44-40_Winchester (acesso 18.03.2020).
http://eloir-mario.blogspot.com/2012/01/44-40.html (acesso 18.03.2020).
http://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-1.222-de-12-de-agosto-de-2019-210735786 (acesso 19.03.2020).
http://guide.sportsmansguide.com/ballisticscharts/ (acesso 19.03.2020).
http://www.zecamat.com.br/pag0108.htm (acesso 19.03.2020).
http://www.leverguns.com/articles/44wcf.htm (acesso 25.03.2020).
https://www.rifleshootermag.com/editorial/ammunition_the_legendary_44-40_100410/84090 (acesso 01.04.2020).
https://www.americanrifleman.org/articles/2018/3/23/handloading-the-44-40-win/ (acesso 02.04.2020).
Fonte: Gassen
Fonte/Créditos: Autor: Augusto Thomazi Gassen - Fonte: Gassen
Créditos (Imagem de capa): Magtech
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